Se você, assim como eu, passou a maior parte da sua vida consumindo filmes de grande sucesso, a experiência oferecida por Ghostpia: Season One pode inicialmente parecer desafiadora. Em um mundo repleto de produções comerciais de alto orçamento que buscam entretenimento fácil e rápido, uma abordagem mais artística pode não agradar logo de cara. No entanto, assim como a arte desafia nossa percepção, Ghostpia se apresenta como uma obra que busca ir além do óbvio.
Desenvolvido pela Chosuido, Ghostpia: Season One é um romance visual composto por cinco capítulos, cada um mergulhando em uma narrativa onírica e contemplativa. Ao contrário de muitos romances visuais que se apoiam em fan-service e escapismo, Ghostpia adota uma abordagem diferente. Se você está em busca de uma experiência que transcenda a narrativa convencional e provoque reflexões sobre a vida e as relações humanas, a primeira temporada deste jogo merece sua atenção.
A trama se desenrola em uma cidade coberta de neve, perto de uma estação ferroviária abandonada, onde vivem 1024 fantasmas. A escuridão é sua aliada, enquanto a luz solar os obriga a um purgatório infestado de neve, simbolizando suas angústias e tribulações. Mas, de maneira surpreendente, os fantasmas de Ghostpia não são apenas seres sobrenaturais; eles espelham os dilemas e conflitos dos vivos.
A cidade, apesar de sua aparente imortalidade, está imersa em estagnação. Os habitantes raramente mudam, mantendo rotinas monótonas e poucos desejos de evoluir. Essa alegoria se torna evidente, ressoando como uma crítica à complacência humana diante das oportunidades. No centro dessa história está Sayoko, uma figura descontente e destemida, em busca de escapar do conformismo dessa realidade. Seu desejo por mudança a coloca como um contraponto à inércia da cidade.
O primeiro episódio mergulha nas emoções de Sayoko, sua sensação de alienação e a busca por pertencimento. A chegada de uma nova garota na cidade desencadeia uma série de eventos que desafiam a conformidade vigente. Essa narrativa deixa transparecer a solidão e o isolamento, oferecendo uma visão autêntica da experiência humana, especialmente para aqueles que já se sentiram como estranhos.
O enredo de Ghostpia se aprofunda ao explorar a influência da igreja local sobre a cidade. A princípio, podemos nos identificar com a perspectiva cética de Sayoko, questionando o poder dessa instituição. No entanto, o jogo surpreende ao conduzir a história por caminhos inesperados. A jornada visual e os momentos de camaradagem entre os personagens contrastam com a angústia vivida por uma freira em treinamento, desafiando nossas expectativas e empatia.
Uma das características marcantes do jogo é sua estética visual. Os visuais, propositalmente distorcidos, lembram uma fita VHS gasta, adicionando um elemento de nostalgia. O uso de artefatos, ruídos e tremores deliberados contribui para essa atmosfera única. Além disso, o sistema que permite retroceder cada episódio usando o botão analógico direito acrescenta uma camada de interatividade que se encaixa bem na narrativa linear do jogo.
Ghostpia: Season One desafia os padrões convencionais ao priorizar uma abordagem artística e contemplativa. Sua narrativa complexa e os temas abordados não buscam respostas fáceis, mas sim provocar reflexões sobre a vida, a identidade e as escolhas que fazemos. Se você está disposto a se aventurar em um território menos explorado pelos jogos contemporâneos, Ghostpia oferece uma experiência emocionante e recompensadora, onde a ambiguidade é a chave para uma jornada significativa. Aguardamos ansiosamente as próximas temporadas para aprofundar ainda mais essa história intrigante e instigante.
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